quarta-feira, 29 de março de 2017

Fabio Schvartsman, um CEO com prazo de validade à frente da Vale?

Fabio Schvartsman, um CEO com prazo de validade à frente da Vale?


No dia 24 de fevereiro, quando comentou os resultados anuais da mineradora Vale, Murilo Ferreira afirmou que a idade foi um dos motivos que o levou a deixar a presidência da companhia. “Temos como visão que devemos ter limite de idade de 65 anos [para a diretoria]. Vou fazer 64 anos agora em junho e 65 no ano que vem”. Ferreira anunciou que deixaria o cargo em maio. Como era de se esperar, as semanas seguintes foram repletas de insinuações sobre seu substituto. A decisão, tomada com base numa lista elaborada pela empresa de recrutamento Spencer Stuart, foi bem técnica.
Para seu lugar foi anunciada nesta segunda-feira a escolha de Fabio Schvartsman, presidente da fabricante de celulose Klabin. O escolhido trabalhou por 22 anos no Grupo Ultra, passou pelo GP e assumiu o comando da Klabin em 2011. Em sua gestão, o faturamento da companhia dobrou, para 7,1 bilhão de reais. Schvartsman é tido como mais duro e direto do que Ferreira, o que deve marcar uma mudança no dia-a-dia da companhia.
Mas o que tem levantado dúvidas no mercado é outra questão. Ferreira, de saída, tem 63 anos. Schvartsman, que assumirá em pouco mais de um mês, também. A regra dos 65 anos de idade limite não está escrita no estatuto da Vale, mas, se o bom senso predominar, o novo presidente terá vida curta na companhia. Qual a lógica?
Embora os mandatos de presidente da Vale durem apenas dois anos, é comum que os executivos fiquem mais tempo na cadeira. Ferreira ficou seis anos. Seu antecessor, Roger Agnelli, dez. É natural que assim seja na indústria de minérios, onde os ciclos são longos e os projetos demoram muito a sair do papel. O S11D, maior projeto de minério da história da companhia, no Pará, começou a ser estudado em 2000, e só saiu do papel em 2012. A licença de operação saiu em dezembro do ano passado. Foi o grande projeto de Murilo Ferreira. “O mercado de mineração não é de longo, mas de longuíssimo prazo”, diz José Renato Lima, professor da USP e especialista em mineração.
As circunstâncias levaram analistas, consultores e investidores a concluir que o novo presidente deve de fato chegar à Vale para uma passagem curta. Segundo o relatório do banco BTG Pactual, a escolha tem a vantagem de minimizar “as preocupações dos investidores em relação à interferência política”. “Ele não é um político, mas é uma pessoa muito bem relacionada. É um nome técnico, que vem para arrumar a casa”, diz outro analista.
O maior desafio de Schvartsman deve ser mesmo conduzir a reorganização societária anunciada pela Vale em fevereiro, que prevê a unificação das ações num único grupo de ordinárias e a listagem da companhia no mais alto segmento de governança da BM&FBovespa, o Novo Mercado. No fim do processo, em 2020, a Vale será uma empresa sem controle definido – e com menos influência do governo.
“A Vale precisa, neste momento, de um presidente de cabelos brancos”, diz Marco Saravalle, analista da XP Investimentos. Para concluir a reestruturação é preciso garantir que os acionistas preferenciais aceitem mudar seus papéis. “A Vale precisa de um nome que consiga dialogar com os acionistas e consiga convencê-los do valor da mudança”, afirma Saravalle.
No comando da Klabin, Schvartsman conduziu a companhia para o nível 2 de governança da BM&FBovespa e emitiu ações para o financiamento do Projeto Puma, em Ortigueira (PR), o maior já realizado pela companhia, com 8,5 bilhões de reais de orçamento.
Ao mesmo tempo Schvartsman também tem bagagem no mercado global de commodities. China e Europa são os principais consumidores de celulose. No ano passado, o preço da celulose enfrentou turbulências parecidas com o preço do minério de ferro nos últimos anos. A inauguração de grandes fábricas de celulose e a desaceleração da demanda na China colocaram a comodity em seu menor patamar em 20 anos.
Joga a favor de Schvartsman também o fato de pegar a empresa num momento relativamente tranquilo para o minério, o que permite que o foco esteja nas questões internas. Depois de chegar a 180 dólares em 2011, o preço do minério caiu para baixo dos 50 dólares no fim de 2015, mas voltou para 80 dólares no início deste ano. A subida, aliada a um forte programa de vendas de ativos e cortes de custos ajudou a Vale a fechar 2016 no azul. A receita aumentou 21% em 2016, totalizando 94,6 bilhões de reais, com isso a companhia saiu de um prejuízo de 44,2 bilhões de reais em 2015 para um lucro de 13,3 bilhões em 2016.
A grande questão é se dois anos são suficientes para as mudanças societárias numa empresa do porte da Vale. “Criar uma corporação não é só pulverizar o capital na bolsa. Essa é a parte fácil”, diz a consultora Betania Tanure. “O mais difícil é mudar a cultura, e, para isso, dois anos pode ser pouco tempo até para companhias muito menos complexas”.
Outra dúvida que se impõe é o que Schvarstman conseguirá fazer em relação à Samarco, mineradora controlada pela Vale e pela anglo-australiana BHP Billiton, parada desde o rompimento da barragem em Mariana (MG), em novembro de 2015. A previsão mais otimista é que a operação seja retomada apenas em 2018. Todos os custos da companhia são pagos com um aporte de 230 milhões de dólares que a Vale e a BHP fizeram no fim de 2016. O problema é que este dinheiro deve durar apenas até junho.
Se conseguir desatar os vários nós da Vale, e ainda dar um jeito na Samarco, Schvarstman ganha força para continuar para além de 2019. Neste caso, o limite de idade cobrado por Ferreira pode ficar em segundo plano frente a satisfação dos acionistas.
Fonte: Exame

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