sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

Para onde vai a Vale?

Para onde vai a Vale?


Recrutado junto à Klabin, o executivo Fábio Schvartsman assume a mineradora com a missão de prepará-la para uma complexa reestruturação societária. Desde a confirmação, em fevereiro, de que Murilo Ferreira deixaria o comando da mineradora Vale, começou a temporada de especulações. Os nomes de quais seriam os candidatos mais fortes começaram a aparecer, e incluíam Carlos Ghosn, do Grupo Renault-Nissan-Mitsubishi, Vasco Dias, ex-Shell, e Marcos Lutz, do conselho da Comgás.
Chegou-se a cogitar até executivos ligados a grupos acionistas da mineradora, como Maria Silvia Marques, do BNDES, Rômulo Dias, ex-Cielo e atualmente diretor do Bradesco, Nélson Silva, diretor da Petrobras, e Paulo Caffarelli, do Banco do Brasil.
As apostas, no entanto, se mostraram mal calibradas. O vazamento do nome do verdadeiro favorito aconteceu apenas 30 minutos antes do horário marcado para a Vale revelar o seu eleito. E o anúncio, na segunda-feira 27 (o mercado esperava a notícia apenas para abril), veio com uma surpresa adicional. O novo presidente é Fábio Schvartsman, CEO da Klabin desde 2011. A princípio, a indicação foi surpreendente até mesmo para o comitê que liderava a seleção, composto por Gueitiro Genso, presidente da Previ, Fernando Buso, presidente da Bradespar, Oscar Camargo, da japonesa Mitsui, e Eliane Lustosa, diretora de mercado de capitais do BNDES.
A pergunta geral, após a sugestão de Schvartsman ser levada à mesa pela primeira vez, foi: “quem é ele?” A resposta foi sendo dada em entrevistas e conversas, que, somadas, acumularam mais de dois dias inteiros, durante cerca de duas semanas. Mais de 20 horas foram dedicadas apenas a entrevistas com a empresa de recrutamento Spencer Stuart, responsável pela lista de indicados e que já havia participado com a consultoria Bain & Company do projeto de governança da Vale. O próprio executivo, de 63 anos de idade, precisou maturar a sua decisão de deixar o comando da Klabin, na qual estava bem respaldado pelos controladores e com um desempenho elogiado (ver quadro abaixo).
Durante todo o processo, os quatro membros do comitê de seleção estavam alertas para participarem de entrevistas de última hora com os candidatos, como prioridade número um de suas agendas. Nos bastidores, a resposta para quem era Schvartsman, que assumirá o cargo no dia 26 de maio, foi surgindo naturalmente ao longo dos dias: era a pessoa certa para comandar a Vale no atual momento. A mineradora precisava de alguém respeitado pelo mercado e que passasse a mensagem de que a empresa, de R$ 101 bilhões de faturamento, privilegiava a escolha técnica e afastava as sugestões políticas.
Também não interessava a indicação de um executivo de perfil olímpico que se considerasse dono de todos os destinos da companhia, como foi o antecessor de Murilo Ferreira no comando da Vale, Roger Agnelli. Mas, ao mesmo tempo, o candidato precisaria dar continuidade aos trabalhos de Ferreira, no sentido de buscar o ganho de eficiência e conduzir a empresa num período de preços baixos do minério de ferro, pressionados pela queda de demanda na China. “Ele trabalha com a equipe que encontra, não destrói o time quando chega”, diz uma fonte próxima do processo de escolha. “Foi assim que conseguiu sucesso na Klabin.”
Mas, principalmente, a opção por Schvartsman tinha um grande objetivo central. Desde o início, a seleção estava claramente voltada a escolher o executivo mais capaz de conduzir a reestruturação societária planejada para a empresa em 2020. O objetivo é tornar a Vale uma companhia de capital pulverizado, enterrando a sensação de que, mesmo tendo sido privatizada, ela nunca se livrou do peso da influência governamental. Isso significará a unificação das ações ordinárias e preferenciais em uma só classe. Algumas mudanças maiores podem acontecer no comando do negócio.
O Bradesco planejaria uma saída do controle que exerce por meio da Bradespar, algo que seria feito de forma sutil, para evitar criar problemas para os outros acionistas. O banco nega a informação e alega ser apenas especulação do mercado. A Valepar controla a empresa, com 33,1% das ações. Desse total, a Bradespar é dona de 21,2% e os fundos Previ, Funcef, Petros e Fundação Cesp acumulam 49%. As experiências anteriores de Schvartsman demonstram que ele pode cumprir bem a função. Em sua passagem de 22 anos pelo grupo Ultra, liderou, como diretor financeiro, a abertura de capital da holding Ultrapar.
Já, na Klabin, melhorou a governança da empresa, elevando o seu patamar para o nível 2 da Bovespa. E havia pressão para que buscasse a entrada no Novo Mercado, exatamente a missão que terá agora na Vale. O mercado lembra, no entanto, que entre 2008 e 2010 Schvartsman esteve à frente do grupo San Antonio, de serviços para o setor de óleo e gás, operação que deu um prejuízo histórico para a gestora GP Investments. Em 2014, a GP registrou a perda total do investimento feito em 2008, de US$ 135 milhões, na compra de 17,7% do negócio.
Haverá também desafios operacionais, muitos dos quais foram encaminhados pela gestão anterior. “Ele não encontrará uma empresa cheia de mato alto”, diz Bruno Giardino, analista do Santander. “Muita coisa já foi feita.” A companhia busca reduzir o seu endividamento de US$ 25 bilhões para um patamar entre US$ 15 bilhões e US$ 17 bilhões. Em dezembro, a Vale negociou os seus ativos de fertilizantes, para a Mosaic, por US$ 2,5 bilhões. E, na segunda-feira 27, concluiu a venda da operação de carvão em Moçambique por US$ 733 milhões, com a sua acionista Mitsui.
Agora, aproveitando a recuperação parcial dos patamares de preços do minério no último ano – mesmo considerando que há previsão de uma certa queda do valor da commodity, neste ano –, deve se desfazer apenas de ativos menos valiosos. Também não pode ser desconsiderado o desafio de gerenciar o ritmo de produção da companhia, depois da entrada em operação neste ano, em Canaã dos Carajás (PA), da mina S11D Eliezer Batista. Trata-se do maior projeto da história da Vale, com US$ 6,4 bilhões de investimentos. Um excesso de oferta poderia causar a diminuição das margens de lucro aferidas com minério.
Deve ajudar nessa tarefa o fato de que Schvartsman acabou de conduzir na Klabin a criação de uma fábrica de celulose, de R$ 8 bilhões, em Ortigueira (PR), o que levou a companhia de volta ao mercado de celulose depois de 13 anos. Por fim, o executivo ainda precisará ajudar a Samarco, empresa controlada pela Vale, voltar a operar, depois dela ter causado o maior desastre ambiental da história, em Mariana(MG) e nas cidades que beiram o Rio Doce. Com tantos projetos que merecerão os holofotes, uma coisa é certa: logo, poucos do mundo dos negócios ainda perguntarão quem é Fábio Schvartsman.
Fonte: Isto É Dinheiro

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